Monday, December 29, 2008

PAPA MEH

(Ou como comemorar o aniversário de um amigo judeu)

 

Não são nem três da tarde e os trompetes do mosteiro tocam fortemente me arrancando do sono com violência. Atravesso a multidayo de corpos exaustos e suados espalhada pelo tatame do meu quarto, lamentando a falta de disposição da juventude atual. Em minhas encarnações anteriores essas meninas teriam aguentado semanas, hoje não suportam nem trinta horas de sexo ininterrupto. Enfadado, acabei buscando um tratado de álgebra linear, receita infalível para a insônia.

O fato, porem, é que os trompetes do mosteiro não soam por qualquer motivo. Olhei pela janela e minhas preocupações se revelaram fundadas. Em meio a algumas dezenas de senhoras de cabelos brancos soltos ao vento e espartilhos de couro preto,  pilotando motocicletas, uma enorme limusine Rolls negra, com um adesivo no vidro de trás dizendo: Toothless Women do It Safer”. Esta só poderia ser a comitiva de uma pessoa no mundo: Meu pai!

Papa Meh cuidou do mosteiro entre minha décima e décima primeira encarnação, ou seja, por um período de quase cento e dez anos. Hoje sua idade é incerta. Devido ao perfeito fluxo catódico que sempre manteve, não mostra mais os sinais da idade desde os setenta anos. Após deixar o primado do mosteiro em minhas mãos, tomou como missão na terra alegrar as mulheres de mais idade. Hoje vive nas montanhas da Geórgia, em uma pequena casa de orações acompanhado por dezoito sacerdotisas com  idade media de mais de cem anos. Nos arredores de seu mosteiro, porém, surgiu uma enorme comunidade esotérica, povoada por senhoras de todo o mundo, notadamente alemãs e californianas, que largaram tudo para conhecer a felicidade catódica e aprender a dar ereções intermináveis a seus maridos e aos amiguinhos de seus netos.

O fato de Papa Meh (como ele insiste em ser chamado em homenagem a nosso velho amigo Papa Doc) estar no mosteiro porém me preocupava. Da última vez em que ele veio precisei pagar fisioterapeutas para metade das estudantes e levei seis meses para renovar a ala das virgens. O velho homem é simplesmente incontrolável diante de mulheres jovens, certamente o motivo do seu exílio voluntário. Escutei os gritos no salão cúbico e quando chegue lá o tumulto já estava armado. Dispersei as meninas seminuas e ofegantes com energia, tranquei as portas. Após meu pai se recompor, abracei-o e trocamos olhares. Ainda faltava uma pessoa naquela sala. Foi quando ouvimos um enorme ruído de animais, certamente renas e muitos sinos. Nesse momento, já arrancando a roupa vermelha e abraçado em duas islandesas entra pela chaminé o nosso convidado de honra, tio Clauss. Há tempos a família não se reunia para o aniversário de Ben Joshua, o Nazareno.

Que a Luz Catódica os envolva e alucine, ao ponto de converter a realidade em sonho e o sonho em realidade!

Meh